Artigo

Enfrentando a realidade climática com ciência, estratégia e responsabilidade

Por Pedro E. Almeida da Silva
Professor Titular da Furg, Bolsista de Produtividade do CNPq

O impactante cenário de cidades alagadas, pessoas desabrigadas, serviços públicos precarizados, mortes, abandono e outros prejuízos psicológicos, sociais e econômicos suscita pelo menos duas questões prioritárias. A primeira é compreender as causas das frequentes catástrofes climáticas e sua potencialização pela ocupação inadequada do solo. Evidências científicas mostram que, em grande parte, trata-se de um fenômeno antrópico que inclui um equivocado planejamento de expansão urbana e agropecuária. No entanto, apesar de todas as provas apresentadas que corroboram esta tese, ainda existem aqueles que a menosprezam, defendendo, por exemplo, a devastação de matas ciliares ou a ocupação imobiliária de mangues, várzeas e ribeiras, acreditando tratar-se apenas de uma "chuvinha" ou uma "enchentezinha". Até quando a sociedade ficará subordinada aos interesses daqueles que degradam o meio ambiente e minimizam catástrofes climáticas em benefício do interesse de uma minoria?
A segunda questão é como enfrentar os próximos desastres climáticos, que certamente não se limitarão apenas a esta região, nem se restringirão a inundações. Na semana passada, por exemplo, a temperatura em Nova Délhi atingiu incríveis 52°C, resultando na morte de mais de 30 pessoas. É necessário construir um plano de enfrentamento que articule os diferentes setores da sociedade e as diversas esferas de governo. Não é justificável tratar as crises climáticas como acidentes ou depender da improvisação como protocolo. É inadmissível surpreender-se diante do absolutamente previsível.
Os recursos públicos são essenciais e, habitualmente, insuficientes, portanto, seu emprego deve ser eficaz, baseando-se na criteriosa avaliação de custos, impactos, benefícios, beneficiados, exequibilidade, e principalmente em dados confiáveis gerados pela ciência. Portanto, é necessário cautela e prudência para não desperdiçar recursos escassos sem oferecer soluções ou gerar novos problemas. Um bom exemplo que requer uma avaliação criteriosa por especialistas de diversas áreas do conhecimento e setores da sociedade é a proposta de abrir um canal artificial no lado leste da Lagoa dos Patos ou modificar o desenho dos molhes da barra, para dar maior vazão à água da laguna. Soluções simples podem parecer atrativas, mas frequentemente negligenciam a complexidade subjacente dos problemas envolvidos.

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